Margarida Lacombe
No Brasil, houve nas décadas de 1960 e 1970 o movimento da psiquiatria comunitária que pode ser mencionado como uma iniciativa reformista no campo saúde mental. Durante a luta pela redemocratização do país o movimento de reforma ganhou novo fôlego, com base na experiência das comunidades terapêuticas que propuseram um modelo de escuta, aproximação, respeito e discussão com os pacientes, consolidou-se uma reação ás estruturas tradicionais do aparato asilar psiquiátrico. Em 1978 a mobilização de reforma ganha um ator importante. É criado o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). Combinando reivindicações trabalhistas e um discurso humanitário, o MTSM alcançou grande repercussão e, nos anos seguintes, liderou os acontecimentos que fizeram avançar a luta até seu caráter definidamente antimanicomial. Em 1987 acontece a I Conferencia Nacional de Saúde Mental que deu visibilidade à resistência passiva ou ativa da iniciativa privada (cuja atuação de assistência à saúde mental foi ampliada de forma significativa durante o governo militar), da estrutura manicomial, da burocracia estatal e do conservadorismo psiquiátrico. Após a Conferencia iniciou-se o caminho para a desconstrução das formas institucionalizadas da sociedade lidar com a loucura. Em 1989, o deputado Paulo Delgado (PT-MG) apresentou o projeto de lei nº 3.657/89, conhecido como a Lei da Reforma Psiquiátrica, que tramitaria durante mais de 10 anos nas casas legislativas, passando por emendas e projetos substitutivos, sendo aprovado em 6 de Abril de 2001, na forma da Lei 10.216. Contribuiu para a conclusão de tramitação do projeto a I Caravana de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em 2000, que, ao inspecionar os HCTPs, realizou importantes recomendações: que o Ministério da Saúde se posicionasse publicamente em favor da reforma psiquiátrica brasileira; que realizasse uma auditoria nacional nas clinicas e hospitais