Kelsen
O que Jean Paul Sartre admira na concepção de Husserl da consciência é aquilo que ele chamará de consciência translúcida, sendo um vazio, um simples movimento, um ato.
Ele completa essas metáforas dizendo o seguinte: A consciência “é um vento que se lança livre na direção das coisas” e que, portanto, não pode captá-las nem aprisioná-las na realidade sólida, de um compartimento intelectual.
Embora Husserl seja um cartesiano, ele nos liberta dessa coisa pensante pela qual Descartes havia definido a consciência.
Descartes definiu a consciência como uma coisa pensante, uma substância pensante. Husserl nos liberta disso. A consciência não é uma essência, é apenas um movimento. E Sartre nos liberta daquela interioridade densa, daquele mundo de memória e de lembrança de Marcel Proust (1871-1922).
Sartre afirma que essa vida interior nada mais é que um refúgio em que tentamos nos manter a salvo da exterioridade. Segundo ele, a consciência não é nada, dentro de nós não há essa densidade das coisas, esse compartimento em que nós desejamos nos esconder. Então, ele diz: “no fim das contas tudo está fora, e até nós mesmos estamos fora de nós mesmos”. Não é em nenhum refúgio que as pessoas irão se descobrir. Elas irão se descobrir “na rua, na cidade, no meio da multidão, coisa entre coisas, homem entre homens”.
O centro do existencialismo de Sartre está diretamente relacionado à sua concepção de consciência com uma intencionalidade pura, como um simples movimento na direção das coisas.
Há um trecho da obra O Ser e o Nada em que ele afirma que “o primeiro passo de uma filosofia deve ser expulsar as coisas da consciência e restabelecer a verdadeira relação entre a consciência e o mundo” (a consciência do mundo como consciência posicional do mundo).
Na terminologia sartreana, a consciência, esse nada, esse vazio, ele chamará de para-si e o ser, esse ser denso, todo coisa, todo fechado, todo maciço, ele chamará de ser em si.
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