Tenório

Conto “Tenório”

Já lá se vai anos desde que os “antigos” diziam “já a formiga tem catarro”, mas ainda assim, este proverbio perdura. No nossos tempos atuais, são bastantes as pessoas que continuam a citar este proverbio. Normalmente é sempre citado por um adulto a dirigir-se a uma criança, entretanto pode ser utilizado em várias situações. Desde a um colega de trabalho inexperiente até a um professor ao seu aluno (dispensando idade).
Mas o que vem significar este proverbio? Seu significado é simples. Na mais simples das definições, “já a formiga tem catarro” refere-se a alguém que quer ser mais do que aquilo que realmente é. Por isso o exemplo adulto/criança. Mas, eu penso que, a sua definição pode ir um pouco mais além. Pode-se dizer que este proverbio é utilizado quando a nossa teimosia e/ou atrevimento cega-nos. No conto “Tenório” de Miguel Torga, aparece-nos uma situação onde Tenório, o galo viril da capoeira que era o “manda-chuva” e que impunha respeito diante dos outros, acaba por ser substituído pela ascensão de outro galo, galo esse seu próprio filho. Filho esse que herda as características do pai. O desertar da sua virilidade ainda na sua idade de “frango” graças, assim como o pai, ao cheiro do mosto a transformar-se em álcool, pela altura das vindimas.
Tenório viveu três largos anos sem um rival que lhe fizesse verdadeiramente frente e que fosse capaz de o tirar do “pedestal” onde ele se pôs. Até que o seu sucessor e filho o fizera, e assim, Tenório, refere-se ao filho como “a formiga tinha catarro”. Mas, a meu ver, quem afinal tinha “catarro” era o próprio Tenório que, cego pela sua teimosia de que somente ele poderia reinar no capoeiro, não se apercebeu que estava velho demais para continuar a travar lutas com galos mais novos. Tenório no seu tempo de Galo era atrevido e cheio de si, vaidoso e teimoso, características essas que cegaram-no. Por fim, a vida formou o seu ciclo, onde a história voltaria a repetir-se, mas desta vez com “aquele