Hermeneutica filosofica
CAPÍTULO 51 A HERMENÊUTICA FILOSÓFICA DE GADAMER A filosofia de Gadamer completa a teoria ontológico-existencial da compreensão e, simultaneamente, constitui a base da sua superação, através da tônica na linguisticidade da com-preensão. Ao salientar aqui o contributo de Gadamer para a teoria hermenêutica irei seguir uma linha de desenvolvimento de incide, em primeiro lugar, sobre a sua exposição da histo-ricidade da compreensão, antes de considerar a sua linguisticidade, especialmente em relação à universalidade do pro-blema hermenêutico. 1. A historicidade da compreensão
Este aspecto é tratado por Gadamer em termos do círculo hermenêutico, com o objetivo de despertar a consciência filosófica das Geisteswissenschaften. Gadamer baseia-se, simultaneamente, na exposição que Heidegger faz da pré-estrutura da compreensão e na tônica de Bultmann na compreensão prévia, na medida em que a primeira é concretizada e a segunda alargada na concepção de «preconceitos» que constituem um determinado «horizonte da compreensão». Gadamer afirma que toda a compreensão é «preconceituosa» e investe um enorme trabalho de pensamento na reabilitação de um conceito que adquiriu a sua conotação negativa com o Iluminismo. A partir desta reivindicação de autonomia, a Razão consi-deraria os preconceitos como escassos restos de uma menta-lidade não esclarecida, que obsta à autodeterminação racional. Esta opinião entrou também no pensamento de alguns român-ticos e, consequentemente, moldou a formulação da doutrina do historicismo. Ao rejeitarem os preconceitos, tanto o Iluminismo e as ciências naturais que dele provieram, como as Geisteswissenschaften do século XIX, entram numa aliança profana que encontra um denominador comum na procura de um conhecimento objetivo, que esperam alcançar seguido um sistema de regras e princípios metódicos e pela «conquista dos mitos pelo logos» (pp. 257, 242)2. Contudo, Gadamer vê aqui a perda da continuidade da tradição que, não obstante, subjaz a ambas