Hermeneutica de gadamer
* por Marcelo Ribeiro Uchôa e
Pedro Saboya Martins
01. Historiografia do conceito de Hermenêutica
O termo hermenêutica deriva do verbo grego hermeneuein e do substantivo hermeneia, que significam, em sua extensão semântica, algo que “é tornado compreensível”, “levado à compreensão”. Muitos autores correlacionam o termo ao deus grego Hermes, o mensageiro dos deuses - a quem se atribui a origem da linguagem e da escrita -, que tinha o dom de permitir às divindades falarem entre si e também aos homens. De uma forma ou de outra, fato é que o termo está diretamente associado à idéia de compreensão de algo antes ininteligível.
Inexistiu ciência autônoma hábil a desenvolver métodos que levassem à correta interpretação, até o século XVII. Neste período, embates havidos entre católicos e protestantes remontados à reforma religiosa conscientizaram a necessidade de se desenvolver uma ciência capaz de interpretar com maior verdade possível. Vale citar que tal necessidade se viu inadiável a partir da divulgação do princípio scriptura sola, mediante o qual Lutero afirma que a Bíblia deve ser interpretada por si só, contrariando a Igreja Católica que se dizia a única capaz de interpretar a Escritura. Com efeito, em primeiro momento, a Hermenêutica passou a servir de auxiliar da Teologia.
O Iluminismo concedeu outras atribuições à Hermenêutica. A apologia à universalidade da razão e a crença no método científico, levaram-na a ser exportada para outros campos científicos (p.ex., Filologia e Direito), mas ainda como ciência auxiliar.
SCHLEIERMACHER[2], no início do século XIX, deu a Hermenêutica outra importância. Avaliou, a partir da distinção entre os contextos em que a mesma se daria e os métodos científicos que proporcionariam direção objetiva ao entendimento, que seu uso era aplicável não apenas a campos setorizados do conhecimento científico, mas a todos os domínios em que se fizesse necessária uma