Doutrina Gramatical Tradicional
Marcos Bagno (…) Em 1990, o lingüista e educador britânico Michael Stubbs escrevia que «toda a área da língua na educação está impregnada de superstições, mitos e estereótipos, muitos dos quais têm persistido por séculos e, às vezes, com distorções deliberadas dos fatos lingüísticos e pedagógicos por parte da mídia». É triste constatar que essas palavras, publicadas há mais de uma década, se aplicam com precisão impressionante ao que ainda ocorre hoje em dia no Brasil. Afinal, de que outro modo qualificar a reportagem de capa do número 1725 de Veja senão como uma série de «distorções deliberadas dos fatos lingüísticos e pedagógicos por parte da mídia»?
O texto assinado pelo Sr. João Gabriel de Lima demonstra o quanto nossos meios de comunicação de massa se encontram, perdoe-me o lugar-comum, na contramão da História quando o assunto é língua. Há um absoluto despreparo de jornalistas e comunicadores para tratar do tema (um exemplo gritante disso veio a público em outra edição recente de Veja, a de número 1710, com a reportagem «Todo mundo fala assim»).
Se falo de contramão é porque — passados mais de cem anos de surgimento, crescimento e afirmação da Lingüística moderna como ciência autônoma —, a mídia continua a dar as costas à investigação científica da linguagem, preferindo consagrar-se à divulgação e sustentação das «superstições, mitos e estereótipos» que circulam na sociedade ocidental há mais de dois mil anos. Isso é ainda mais surpreendente quando se verifica que, na abordagem de outros campos científicos, os meios de comunicação se mostram muito mais cuidadosos e atenciosos para com os especialistas da área. Quando o assunto é língua, porém, o espaço maior é invariavelmente ocupado por alguns oportunistas que, apoderando-se inteligentemente dessas «superstições, mitos e estereótipos», conseguem transformar esse folclore lingüístico em bens de consumo que lhes rendem muito