O que foi o congresso de milão
O congresso de Milão aconteceu em 1880. Reunia os intelectuais da época em um evento que teria consequências terríveis para as comunidades surdas do mundo todo. Nessa ocasião ficou demonstrado que os surdos não tinham problemas fisiológicos em relação ao aparelho fonador e emissão de voz, fato esse do qual derivou a premissa básica: os surdos não têm problemas para falar. Baseando-se nessa premissa, a comunidade científica da época impôs que as línguas de sinais, ou linguagem gestual, conforme eram conhecidas, fossem definitivamente banidas das práticas educacionais e sociais dos surdos. Adotou-se o método de oralização. As resoluções foram quase unânimes, contando com poucas, e isoladas, oposições: às escolas de surdos cabia o ensino da fala como meio de inserção do surdo em um mundo ouvinte. Os gestos? Que fossem banidos. As práticas bimodais que utilizavam sinais em simultaneidade com a fala também foram rejeitadas. O oralismo puro, como acordado por grande parte dos mais de 170 membros do Congresso (em sua quase totalidade ouvintes), foi apontado como a melhor abordagem para a educação de surdos.O Congresso de Milão constituiu não o começo do oralismo, mas a sua legitimação oficial. Tratou-se de um marco histórico que cristalizou a hegemonia do ouvir e do falar, e que se desdobrou em uma série de reformulações nas estruturas, nos currículos e nas metodologias de várias instituições de então.Por uma perspectiva filosófica, as linguagens gestuais figuravam como sinônimo de obscuridade do pensamento: a razão só seria acessível pelo domínio da palavra falada, de acordo com as bases aristotélicas já citadas. A “linguagem mímica”, como a percebiam alguns, ligava-se ao primitivo, ao rude, a um meio de comunicação precário e limitado. As formas manuais estariam, sob essa compreensão, muito aquém da complexidade e das possibilidades das línguas orais.
Do ponto de vista religioso, um surdo não oralizado não partilharia a língua em que se