A herança de Rubião
A herança de Rubião
Marcos Rogério Cordeiro Fernandes | UFMG
Resumo: Estudo sobre o romance Quincas Borba (1892), de Machado de
Assis, com interesse em investigar como a trama narrativa internaliza problemas históricos e sociais. A análise vai procurar relacionar a implantação do capitalismo financeiro e a justaposição de estruturas sociais contraditórias como efeito do processo de modernização da sociedade brasileira no período abordado no livro. Com isso, veremos como questões extra-artísticas são incorporadas e se tornam estruturas internas da obra literária.
Palavras-chave: Machado de Assis, Quincas Borba, análise textual.
Quando o filósofo Quincas Borba morreu, deixou a seu amigo Pedro
Rubião de Alvarenga – que também lhe servia de acompanhante e enfermeiro, além de lhe administrar a casa – uma rica herança. Essa herança ativa um movimento que o transforma de ex-professor em homem de negócios e deve ser compreendida como chave para uma análise materialista de Quincas Borba. Quer dizer, a herança de Rubião possui dois lados: um deles voltado para a trama propriamente dita, na medida em que determina o destino do protagonista; outro, voltado para os problemas históricos, que delimitam um quadro da sociedade brasileira. Trata-se, portanto, de dois lados de um único processo, coeso e estruturado como forma do romance. Partindo deste princípio integrativo, veremos como Machado de Assis problematizou a sociedade brasileira, não como um todo homogêneo, um pano de fundo para as ações da trama, mas como um processo em formação, cujo
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O eixo e a roda: v. 16, 2008
movimento estrutura problemas escolhidos e os internalizam à economia formal da ficção.
Meu objetivo não é analisar o processo histórico como um todo, mas interpretar os desdobramentos de certo fato inscrito no romance, a partir do qual procurarei reconstruir a visão crítica de Machado de Assis em relação ao processo de modernização em curso