Retrocesso
Escrito por Rogério Cezar de Cerqueira Leite - Folha de S. Paulo
Ter, 06 de Março de 2012 07:58 - Última atualização Ter, 06 de Março de 2012 08:00
Os cortes em ciência condenam o país ao subdesenvolvimento; a aversão dos economistas por tecnologia, preferindo fazer o país pagar royalties, é desastrosa
Em relação ao ano de 2011, o orçamento federal de 2012 para o setor de ciência e tecnologia teve um acréscimo de cerca de 20%.
Exultaram os membros da comunidade acadêmica nacional. Todavia, esse aumento meramente corrigia uma redução de cerca de 10% ocorrida entre 2010 e 2011, além das perdas devidas à inflação ocorrida em 2010 e 2011.
Ou seja, o orçamento de 2012, que aparentemente apresenta um ganho de 20% com relação a
2011, apenas restaura o valor de 2010. Fomos iludidos.
Pois bem, não bastasse esse logro, a administração atual impôs um corte de 22% no orçamento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Como 70% desses recursos se referem a custos fixos (salários, impostos etc.), pouco ou nada resta para os projetos, mesmo aqueles que já estão em andamento.
Isso terá como consequência a existência de perdas não só de tempo, mas até mesmo de investimentos já realizados.
É interessante notar a diferença entre educação, que não teve cortes, e o setor de ciência e educação. Nenhum cidadão consciente proporia cortes em educação. Mas é bom notar que, se educação tem consequências imediatas, algo que se exprime no acesso ao emprego, a ciência e a tecnologia representam o desenvolvimento econômico e social futuro do país.
A forte correlação entre o investimento em pesquisas e PIB per capita das nações é prova suficiente. Mas de quem seria a culpa senão de David Ricardo (1772-1823), com seu "teorema dos custos comparativos"? Essa é a única doutrina sobre a qual todos economistas, exceto talvez Arghiri
Emmanuel, estão de acordo. Mas ela, não obstante, é obtusa.
Explico-me. De acordo com essa teoria, se