Contradição inerente à alberto caeiro
Negando a filosofia, Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, pratica o ato de filosofar.
‘’Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus pensamentos / E os meus pensamentos são todos sensações’’. Alberto Caeiro, poeta da natureza, das coisas simples e contra qualquer teoria subjetivista ou humanista nega, em todos seus poemas, a idéia de filosofia, pregando a idéia das coisas imanentes. Para o poeta nascido em Lisboa, mas criado no interior do continente europeu, o correto sentido das coisas no mundo são elas mesmas. O sentido imanente surge então como fator de combate a filosofia defendida por Platão, a qual afirma que a verdadeira face do mundo está contida no plano das idéias.
Eis que surge uma contradição básica: para negar a filosofia, Caeiro necessita, antes de qualquer coisa, filosofar. ’’ A minha alma é simples e não pensa, eu vivo e não penso’’. Afirmando que não pensa, o poeta está, antes de qualquer coisa, pensando. Se a verdade para Caeiro está contida no mundo real- sensível ou palpável, o mesmo precisou refletir para chegar a tal conclusão. Indo de frente a teoria dos filósofos clássicos, o mestre dos heterônimos afirma que o mundo só é possível de ser enxergado, quando se faz o uso dos cinco sentidos. Fazendo-se uso dos sentidos, sensações serão sentidas e essas, representam o real mundo em que vivemos.
No poema “O que nós vemos”, Alberto crítica a filosofia, afirmando que a mesma é enganosa ao afirmar que quando enxergamos algo, aquilo enxergado tem um significado diferente do que está sendo visto: “... estrelas não são senão estrelas e flores não são senão flores...” Na teoria defendida pelo poeta, não existe pensamento filosófico, somente sensações que são a real percepção de mundo pelo homem e que o definem perfeitamente. Mas para entender a sensação proporcionada por uma flor, ou uma estrela, necessita-se, antes, fazer o que é mais evitado pelo poeta do campo, filosofar.