mario
Aleilton Fonseca
Desta cidade histórica, desta cidade completa,
Cheia de passado e presente, berço nobre onde nasci.
Meu pensamento é tal-e-qual São Paulo, é histórico e completo.
É presente e passado e dele nasce meu ser verdadeiro...
(Momento)
No primeiro livro modernista de Mário de Andrade, Paulicéia Desvairada, o poema inicial já indica, desde o título, que a cidade de São Paulo é o seu motivo inspirador:
INSPIRAÇÃO
“Onde até na força do verão havia empestades de ventos e frios de crudelíssimo inverno”.
Fr. Luís de Sousa
São Paulo! comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!...Trajes de losangos...Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris...Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!1
LÉGUA &
ME I A : R E V I S T A
DE
LITERATURA
E
DIVERSIDADE CULTURAL
— 237
O poema é emblemático e paradoxal, como se observa já no sentido do título e na citação dos versos do poeta português Fr. Luís de Sousa. A cidade como inspiração é fato que situa o discurso poético na atualidade universal, em sintonia com a visão da matéria urbana como pedra de toque da lírica moderna. Com efeito, a cidade torna-se um dos motivos geradores centrais da nova poesia e locus simbólico da existência e da atuação do poeta. Da sua relação com o espaço urbano em que existe e circula como personalidade particular e artística motiva-se e se tece o texto poético numa relação tensionada entre a negatividade e a positividade. Do meio urbano onde o poeta existe e sobrevive, flui o canto possível que traduz as imagens da cidade inspiradora. Assim se configura a equação poética das metrópoles: as imagens urbanas somadas às vivências motivam e consubstanciam a inspiração do poema. O primeiro título