As emoções que nos fabricam
Vinciane Despret
Introdução
O décimo segundo camelo
Conta-se que de países longínquos, tão diversos quanto as ilhas do Pacífico Ocidental, as terras glaciais do Alaska, o Japão, a profundidade do deserto egípcio ou alguns países da África negra, antropólogos voltam com novas emoções, desconhecidas para nós. Estas emoções novas, das quais nos dizem, aliás, que elas são difíceis de traduzir, ganham os nomes estranhos de song, de metagu, de amae, de ikari, e outras ainda. Nossas almas não parecem conhecê-las, contudo, se nos esforçamos para dar palavras de nossa língua, elas se assemelham a certas emoções que nós conhecemos, o medo, a cólera justificada, ou ainda o sentimento da criança mimada por sua mãe. Mas estas emoções, dizem os antropólogos, não são senão dificilmente acessíveis, e nós não poderemos compreendê-las plenamente senão se recriássemos o mundo que as viu emergir, e que lhes deu seu sentido. Os antropólogos, uma vez que interrogam as almas daqueles a quem eles se dirigem, foram batizados etnopsicólogos, sugerindo por isso que as almas por elas mesmas poderiam diferir conforme as culturas que as acolhe. Eles nos narram que algumas das emoções que nós conhecemos, e que nós sempre tínhamos pensado universais, parecem desconhecidas alhures, como a cólera. Mais inacreditável ainda, pareceria que algumas de nossas emoções, justamente aquelas que nós pensávamos naturais, arcaicas ou biológicas, aquelas que nós críamos inscritas em nosso fundo comum de natureza, não existem para outros a não ser se cultivadas, e que se, por exemplo, não tomarem cuidado em ensinar a seus filhos, é arriscado que elas jamais emerjam: como é o caso do medo. Pareceria assim, que nossas emoções, que sempre foram para nós de uma evidência tão íntima, estas emoções que são sempre tão internas para nós, tão naturais, tão biológicas, tão transbordantes, estas emoções cuja autenticidade mesma nos fascina, se constitui para os outros de uma