A Língua de Eulália
Aprender a respeitar e aceitar o outro pode ser uma questão com resposta na ponta da língua: é o que nos mostra Marcos Bagno nessa interessante aventura pelo português que os livros não trazem
A Língua de Eulália: novela sociolingüística (Marcos Bagno;Contexto;165 páginas), poderia ser a bucólica história de três moças que fazem uma viagem de férias ao interior de São Paulo, prontas para respirar o ar “incolor e inodoro” de Atibaia sem maiores preocupações. Vera, Sílvia e Emília são garotas de classe média, todas estudantes universitárias, que vão hospedar-se na casa da tia de Vera, Irene, professora universitária aposentada que escreve livros sobre língua portuguesa e lingüística e ensina pessoas adultas, de classe baixa, a ler e escrever. A primeira aluna de Irene foi Eulália, empregada da casa há vinte anos, que torna-se membro da família pelo vínculo de amizade que mantém com Irene. Eulália, embora apareça pouco no desenrolar da trama, é personagem marcante porque seu modo de falar característico, considerado “errado” pelas estudantes universitárias, é o que leva a professora Irene a questionar suas novas “pupilas” sobre a quantidade de línguas faladas no Brasil. Pergunta que vira “aula”, apenas a primeira de muitas que as meninas terão nestas férias, bastante surpreendentes para elas e para quem espera do livro apenas uma historinha didática. É desfazendo o mito de uma língua única e apresentando as variedades lingüísticas existentes no país que a professora nos faz pensar sobre a marca pessoal que imprimimos na língua, pessoal e intransferível como nossa própria caligrafia. Diferenças regionais, sócio-econômicas, etárias...a língua única “são” diferenças, e o ser humano, tão acostumado a buscar o seu igual, custa a entender essa beleza. De modo simples, A Língua de Eulália nos convida a refletir sobre isso, sem preconceitos: a partir do momento em que deixamos de chamar a língua dos mais