A epistemologia do professor
RESUMO
Escola, conhecimento e aprendizagem
Podemos reduzir o trabalho de sala de aula a duas formas pedagógicas básicas. A primeira caracteriza-se por reproduzir o modelo que “sempre deu certo”; numa palavra, repetir o que sempre se fez, desde o século XVII. Essa forma é suportada por duas crenças: de que o conhecimento ou está pronto no meio social (empirismo) ou está pronto, como capacidade definitiva, no genoma (apriorismo ou inatismo). A segunda forma pedagógica caracteriza-se por trabalhar com a atividade do aluno, desafiando-o a pensamentos e comportamentos progressivamente autônomos. Para seguir a primeira, não é necessário munir-se de concepção teórica, com fundamentação científica. Basta seguir os costumes escolares, reproduzir o senso comum que acredita que tudo se resolve na prática, que basta conhecer o conteúdo, ter bom senso e seguir a própria intuição: ensinar, e exigir a repetição do ensinado ou deixar que o aluno aprenda por si mesmo se ele for, presumivelmente, bem dotado. O recurso indispensável para isso é a disciplina, isto é, o controle do comportamento do aluno, de forma explícita (diretivismo) ou de forma velada (não diretivismo). Para dar conta da segunda, é necessário, ao contrário, progredir na construção de uma concepção teórica, com fundamentação multidisciplinar: psicológica, sociológica, epistemológica. Essa forma implica interdisciplinaridade, organização metodológica e disciplina intelectual. É dispensável dizer que seguir a primeira modalidade é simples e fácil. A segunda, ao contrário, é muito trabalhosa. Embora a primeira modalidade constitua a forma incontestavelmente hegemônica de trabalho escolar (Becker, F. Epistemologia do professor; o cotidiano da escola, 13ª ed., Vozes, 2007), as limitações que ela apresenta, enquanto minimiza a criatividade, impede a invenção, esbanja energia docente com a disciplina, desperdiça energia discente com atividades repetitivas, são também