A dialética na construção coletiva do saber cientifico
Marcelo Dascal
O saber – especialmente, mas não somente, o saber científico – se constrói e cresce através de um trabalho coletivo que se realiza em diferentes níveis, incluindo as equipes de investigação e laboratórios, as revistas, congressos e outros meios de contacto entre os cientistas, o julgamento dos projetos de pesquisa pelas agências de financiamento, a divulgação pública dos resultados da pesquisa, etc. Costuma-se enfatizar o caráter cooperativo da construção coletiva do saber. Mas não menos importante que a cooperação – e talvez condição necessária de sua possibilidade – é o confronto crítico entre abordagens, projetos, metodologias, objetivos, disciplinas, teorias, e cientistas individuais ou grupos de cientistas. Sendo a crítica e a controvérsia o motor do progresso do saber, indicarei neste texto algumas das formas em que deve ser estudada a atividade crítica e de que modo contribui para o avanço da ciência. O saber científico é um saber “coletivo”. O que isso significa? Contemporaneamente, dificilmente pode-se pensar em uma construção desse saber que não seja coletiva. Na big science de nossos tempos seu caráter é necessariamente “coletivo”, face às exigências da especialização e da complexidade da investigação científica envolvida, realizada através de equipes de trabalho cruzando campos disciplinares e muitas vezes proliferando nas suas intersecções. Esse trabalho é produzido e avaliado por comunidades científicas de profissionais, exibindo uma estruturação e hierarquização próprias. A necessária comunicação entre seus membros supõe, por sua vez, uma transparência que torna a enfatizar seu caráter de um empreendimento “coletivo”, público, disponibilizado aos devidamente capacitados. Contudo, não apenas no evento da big science, mas ao longo de sua história, a ciência moderna exibe um caráter “coletivo”, ainda que esse termo deva ser melhor precisado. Cabe perguntar