A acumulaçao primitiva
Marx direcionou suas lentes, trazendo-nos uma interpretação diferente daquela dada pelos economistas políticos sobre a transição do feudalismo para o capitalismo. A morte de um está entrelaçada umbilicalmente com o nascimento do outro, que conserva elementos do antigo modo de produção.
Os economistas políticos recorrem, para explicar a gênese do capitalismo, a uma lenda teológica, de um passado muito remoto e distante. Segundo Adam Smith, a chamada acumulação primitiva teria acontecido de forma serena, idílica, como a criação do Jardim do Éden nas escrituras sagradas do Antigo e Novo Testamento. Marx, arguto leitor do filósofo escocês, e, por que não dizer das Escrituras Sagradas, nos conta, com suas próprias palavras, como a economia política narra este nascimento celestial do capitalismo.
SLIDE: Havia outrora, em tempos muito remotos, duas espécies de gente: uma elite laboriosa, inteligente e, sobretudo econômica, e uma população constituída de vadios, trapalhões que gastavam mais do que tinham. A lenda teológica conta-nos que o homem foi condenado a comer o pão com o suor do rosto. Mas a lenda econômica explica-nos que o motivo porque existem pessoas que escapam a esse mandamento divino. Aconteceu que a elite foi acumulando riquezas, e a população vadia ficou finalmente sem ter outra coisa para vender além da própria pele. Temos aí o pecado original da economia (MARX, 2003 [1867], p.827).
No capítulo da Gênesis, temos como protagonistas, a serpente, Adão, Eva e o Criador. Já na lenda secular da economia política temos a burguesia e o proletariado, com suas naturezas individuais: a burguesia laboriosa e o proletariado preguiçoso. Ao invés da estória do Jardim do Éden, onde Eva, por gula e ambição, e ludibriada pela serpente, convenceu Adão a morder o fruto proibido, temos os trabalhadores escolhendo, por livre arbítrio, a preguiça, pecado capital que os condenou à eterna pobreza. A explicação dos economistas políticos para a