ACUMULAÇÃO PRIMITIVA
O modo de produção capitalista necessita de alguns pressupostos históricos para emergir enquanto uma força social hegemônica, convivendo com modos de produção arcaicos, não-capitalistas, mas dominando-os de forma inequívoca de acordo com sua lógica de reprodução ampliada da riqueza abstrata. A acumulação capitalista pressupõe a existência da mais-valia que, por sua vez, reclama a existência dos elementos centrais da produção capitalista, a saber, capital e trabalho assalariado. Posto desta forma, o segredo da origem do capitalismo vai ser localizado na gênese histórica dos pólos antagônicos capitaltrabalho assalariado, materializados, respectivamente, em duas classes sociais, na burguesia industrial e no proletariado moderno.
A chamada acumulação primitiva traz à tona os elementos históricos capazes de explicar os movimentos conjunturais e as leis estruturais da acumulação capitalista, e é para
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este período que Marx direcionou suas lentes, trazendo-nos uma interpretação diferente daquela dada pelos economistas políticos sobre o mesmo fenômeno histórico – a transição do feudalismo para o capitalismo. A morte de um está entrelaçado umbilicalmente com o nascimento do outro, que conserva elementos do antigo modo de produção, mas o supera de tal modo que podemos afirmar: a história da humanidade nunca mais seria a mesma com a emergência do capitalismo, com a luta de classe atingindo um patamar inequivocamente mais elevado do que em qualquer outro tempo histórico precedente.
A economia política nutre uma obsessão metodológica em naturalizar os fenômenos históricos, em particular os que dizem respeito à ordem capitalista, seja do seu início, seja do seu desenvolvimento. Nas trilhas dessa tendência metodológica, os economistas políticos recorrem, para explicar a gênese do capitalismo, a uma lenda teológica, de um passado muito remoto e distante. Segundo Adam Smith, a chamada acumulação primitiva descreve a