quem tem farelos
De enredo muito ténue, esta farsa terá sido representada ao público em 1508, e à corte em 1521. Porém, há muitas dúvidas quanto a estas datas, tomando-se como mais provável o ano de 1505.
"É inspirada numa pequena cena da vida da sociedade do tempo. As personagens são: dois criados murmuradores que falam dos seus amos sem consideração alguma; um escudeiro, fidalgo pobre, orgulhoso e embusteiro; uma menina pretensiosa, sonhadora, e que julga desmorecer com o trabalho; e uma velha supersticiossa e impertinente." (J.Dias da Silva, Colectânea, Editora Educação Nacional,lda., Porto, 1994).
Assistimos a cenas realistas, habilmente construídas para ridicularizar o escudeiro pelintraa, galante e presunçoso. É também uma sátira às meninas insensatas que procuram melhorar a sua situação económica através do casamento, e que veêm nessa união um meio de ascenção social.
No início da peça, aparecem dois moços que deixam morrer os seus cavalos à mingúa, e têm que mendigar por farelos, daí o título da obra.
Aparício- "Quem tem farelos?
Ordonho- Quien tiene farelos?
(...)
Como te va, companero?
Aparício- Si eu moro c’um escudeiro
Como me póde a mi ir bem?" Ao longo deste diálogo, vão desmitificando o escudeiro, reportando-se à sua pobreza e à sua fome. No entanto, são preguiçosos, pois acomodaram-se a esta vida, (mesmo sendo mal pagos), vendo nela um modo de ascender à corte.
Entra em cena Aires Rosado (escudeiro), que deambula de noite pelas ruas, sob a janela da sua dama Isabel. Ao longo da cantiga que entoa à moça, o escudeiro é frequentemente interrompido pelos apartes críticos dos criados.
Aires- "Que venida es la hora,
Si quereis partir.
Aparício- Má partida venha por ti!
(...)
Aires- Si estais descalza
Aparício- Eu ma ora estou descalço."
A conversa entre os dois namorados, torna-se impossível de escutar, principalmente no que diz respeito às falas de Isabel. Os ruídos são os mais variados, desde o miar de gatos, o ladrar de