Pessoa

270 palavras 2 páginas
Álvaro de Campos

Apontamento
A minha alma partu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tnha quando me senta eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se parta.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E ftam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que fcou ali.

Perguntas do manual
1- Delimita, no poema, as seguintes partes lógicas:
- a alma partu-se em cacos;
- os deuses assistem complacentes;
- o fragmento cintlante.
2- “A minha alma partu-se como um vaso vazio”.
- Explica como, a partr desta inesperada comparação, se constrói o tema da fragmentação do eu.
3- “Tenho mais sensações do que tnha quando me senta eu”.
“O que eu era um vaso vazio?”
- Interpreta estes versos, à luz daquilo que já sabes da poétca pessoana.
4- Interpreta a últma estrofe.
5- Analisa os recursos expressivos mais signifcatvos ao nível da coesão e a coerência do discurso.

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