As pesquisas mostram que uma das maiores causas de traumas nas pessoas é o divórcio. Em muitos casos a ruptura do relacionamento conjugal enseja um sofrimento mais intenso até do que a perda de uma pessoa querida. E isso tanto nos cônjuges com nos filhos. Naqueles porque um dia decidiram unir definitivamente suas vidas, de tal sorte e com tal intensidade que todo o seu presente e futuro é projetado, pensado e sonhado em função dessa união. E, quanto aos filhos, porque o amor que eles verdadeiramente apreciam é aquele que há — ou deveria haver — entre as pessoas que eles mais amam no mundo: a mãe e o pai. Apesar disso, sabemos que há situações em que a ruptura da vida em comum aparece como inevitável. Nesse caso, marido e mulher terão atirado fora toda a possibilidade de alcançarem a tão almejada felicidade? Claro que não. Talvez um aspecto mais difícil nessa situação seja mudar os projetos outrora comuns. Como canta em bela música o Renato Russo: “Dos nossos planos é que eu tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção”. De fato, tudo aquilo que se sonhava fazer com o(a) esposo(a), agora haverá de se contentar com fazer só ou apenas com um amigo ou com os filhos... Nesse cenário, talvez aflore um sentimento terrível: o ressentimento. Atribuímos ao outro a culpa de termos jogado tudo fora e então não se consegue afastar o rancor que aflora forte e intenso, com raízes profundas na alma. Penso, portanto, que o primeiro passo é precisamente arrancar esse ódio do coração. E isso não é uma tarefa fácil. Exigirá esforço e tenacidade, mas é necessário, pois sem isso não se é possível superar. Alguém já fez uma analogia com um vaso repleto de sujeira encrostada e feia. É necessária uma faxina pesada para arrancar essa porcaria do recipiente, para só então cultivar nele belas flores. Porém, quando se consegue, que mudança! Algo de semelhante acontece no nosso coração. É preciso arrancar o ressentimento para cultivar nele as belas sementes do amor.