pessoa
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus.
Pretende-se fazer uma análise estilística do poema Cidadezinha Qualquer, a partir dos elementos linguísticos que reforçam as características de uma cidade de interior no que ela tem de rotineira. Enfocaremos a mesmice transmitida pelo texto, comentando os recursos usados para sugerir a idéia de solitude, com base na observação de que o tema é reforçado com a repetição de termos que sugerem a rotina do dia-a-dia, o que dá um ritmo bastante peculiar ao texto.
Nos três primeiros versos, temos construções sem verbos, o que demonstra, de forma clara, a falta de ação objetiva inerente à cidade de interior retratada. O primeiro verso nos dá a idéia de distanciamento entre as casas ao colocar “casas entre bananeiras” e não “bananeiras entre casas”; o segundo substantivo (bananeiras) parece sobrepor-se ao primeiro (casas), como se fosse predominante, o que leva o leitor a concluir que o número de bananeiras é bem maior que o de casas. Esse distanciamento físico é bastante condizente com a condição de cidade pequena e com a solidão que ela inspira.
No verso “Mulheres entre laranjeiras”, transparece a domesticidade da vida feminina, indicada apenas para o casamento – sugestão entrevista na simbologia do temo “laranjeiras”, já que a flor dessa árvore compõe o buquê das noivas.
Concluindo o primeiro terceto, temos um verso com substantivos soltos “pomar amor cantar”, sem pontuação, como se fosse dito ininterruptamente. Os elementos semânticos das palavras denotam a simplicidade peculiar à vida interiorana isenta de qualquer atividade inédita. Além disso, os três substantivos remetem a atividades ligadas à mulher do interior, cuja vida centra-se no amor à família e cujo trabalho limita-se à esfera doméstica, estendendo-se, por vezes ao pomar, onde permanece durante