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Os genes da discórdia – Alimentos transgênicos no Brasil ∗
MARCELO LEITE
A produção de soja é dominada por apenas quatro países, que responderam em 1998 por 88% da colheita mundial de 154,7 milhões de toneladas: Estados Unidos (47%), Brasil (20%), Argentina (11%), e China (10%).1 Mesmo ocupando o segundo lugar, o Brasil é o únicos deles que ainda não aderiu à soja transgênica resistente a herbicida, uma tecnologia agrícola que vem fascinando plantadores onde foi regulamentada. Nos Estados Unidos, desde a introdução do plantio das variedades geneticamente modificadas em 1995, a cultura biotecnológica já ocupava em 1998 cerca de 55% da área plantada de soja. No Brasil, as únicas lavouras transgênicas conhecidas ficam no Rio Grande do Sul, são ilegais e foram plantadas com sementes de soja contrabandeadas da Argentina. O que o país perde, ou ganha, demorando tanto a mergulhar na nova onda tecnológica? O efeito da invasão dos negócios pela engenharia genética, com a proliferação das chamadas “companhias de ciências da vida” (life sciences companies), é um fato econômico marcante dos anos 90. Gigantes do setor químico passaram por um processo bilionário de concentração e de canalização de investimentos para a área recém-batizada como genômica. CibaGeigy e Sandoz fundiram-se para dar origem a Novartis, avaliada logo depois em mais de US$ 100 bilhões. A Monsanto investiu US$ 8 bilhões em biotecnologia em 1997-98. O dinamismo do setor fica evidente no aumento vertiginoso de pedidos de parentes para seqüências de DNA (ácido desoxirribonucléico, molécula-base do código genético) encaminhados ao Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos: um salto de 4 mil requisições em 1991 para 500 mil em 1996.2 O Brasil é a nação com maior riqueza genética3, também conhecida como biodiversidade, a matéria-prima da biotecnologia. Apesar disso, somente em 5 de janeiro de 1995 – quase três anos depois da negociação da Convenção da Biodiversidade