Na senzala uma flor robert slenes
Família Escrava (Brasil Sudeste, Século XIX), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.
O fogo africano Resenha
O título deste livro refere-se à imagem usada por um viajante estrangeiro no Brasil, Charles Ribeyrolles, para quem não haveria "uma flor" na senzala - não haveria amor, família, "nem esperanças nem recordações" entre escravos brasileiros. O historiador Robert Slenes, da
Universidade Estadual de Campinas, encontrou essa flor. Seu excelente livro combate a opinião, prevalecente entre observadores do passado, e muitos historiadores até recentemente, de que os escravos eram sexualmente promíscuos, não tendo um mínimo de vida familiar normal. Outros pesquisadores vêm publicando sobre o tema, mas por meio dos mais diversos veículos acadêmicos, e agora deste livro, Slenes tornou-se o principal artilheiro nesse campo.
Ele dedica todo o primeiro capítulo a repassar e comentar criticamente a literatura sobre o tema, desde autores que negavam a família escrava (como Florestan Fernandes e Roger Bastide) aos que agora a estudam (como Manolo Florentino, Roberto Góes, Hebe Mattos e Flávio Mota).
Nesse capítulo, como nos demais, além de dar conta da historiografia brasileira, ele identifica influências e coincidências entre o que se escrevia aqui e lá fora, nos EUA sobretudo. Sua erudição bibliográfica é mobilizada para iluminar o caso do Brasil mediante a comparação e o uso de boas estratégias de pesquisa desenvolvidas alhures.
Vida familial escrava
Com efeito, grande parte do livro baseia-se num sistemático e inteligente diálogo, sobretudo com historiadores da escravidão no Sudeste brasileiro. À sua principal base empírica, o município de Campinas, em São Paulo, ele agrega dados de outras regiões levantados por outros pesquisadores para discutir, numa perspectiva comparativa, temas como taxas de nupcialidade, endogamia étnica, relação entre tamanho