Resenha: na senzala, uma flor
Professor da Universidade Estadual de Campinas, o norte-americano radicado no Brasil Robert W. Slenes é um dos principais pesquisadores a respeito da escravidão no Brasil, se preocupando em trabalhar com a questão demográfica e também se ocupando do problema da família escrava. Em sua obra, tida como referencia na área, ele combate a opinião prevalecente até recentemente, de que os escravos eram sexualmente promíscuos, não tendo um mínimo de vida familiar normal. Trabalhos como o de Slenes têm servido para trazer uma nova concepção e criar uma ampliação das interpretações sobre o viver do escravo no século XIX.
O ponto de partida foi justamente a descrição feita pelo viajante francês Charles Ribeyrolles, em seu livro Brasil Pitoresco (1859), no qual ele notava que jamais havia visto nos cubículos dos escravos sinais de esperança ou de recordações, desprovidos de condições mínimas para que a família pudesse fazer parte da vida entre os escravos, viviam como "ninhadas", e deste modo ele concluiu que não havia entre eles nenhuma perspectiva de passado e de futuro: "Nos cubículos dos negros, jamais vi uma flor: é que lá não existem esperanças nem recordações”.
Slenes acredita que houve, sim, o que se pode chamar de uma família escrava, baseada em casamentos estáveis. Mostra que, em Campinas, 61,8% das mulheres cativas com 15 anos ou mais eram casadas ou viúvas (dado de 1872). Vai além: mostra que a organização dessa família era forma de resistir à dominação do fazendeiro. Organizar uma família significava alguns direitos (maior privacidade e espaço para produzir, entre outros), facilitando a acumulação de pequenas quantias.
Em sua primeira parte “lares negros, olhares brancos”, o autor imerge nos relatos de viajantes europeus, recordações de fazendeiros e imagens literárias da época (romances). Dessas fontes, Slenes