Memória e patrimônio
Com este primado do econômico e esta definição de modernidade pela abstração, dois novos conceitos entram em jogo na oposição antigo/moderno. Em primeiro lugar, com a economia, o "moderno" é posto em relação, não com o "progresso" em geral, mas com o "desenvolvimento" ou, em sentido mais restrito, segundo alguns economistas liberais, com o "crescimento". Por outro lado, 'moderno' já não se opõe a 'antigo', mas a 'primitivo'. É no domínio religioso que Van der Leeuw opõe à "mentalidade primitiva" "incapaz de objetivar, a "mentalidade moderna", definida pela "faculdade de abstração" [1937].
Mas o século XX definiu também a modernidade por algumas atitudes políticas. "É banal constatar", diz Pierre Kende [1975, p. 16], "que as estruturas da vida moderna são, diretamente, o produto de duas séries de revoluções: a que interveio na esfera da produção (passagem do artesanato à indústria) e a que teve lugar na política (substituição da monarquia pela democracia)". E acrescenta: "Ora, o uso produtivo supõe o cálculo racional que é ainda um aspecto do pensamento laico e científico". Marx, no fim do artigo Zur Kritik der hegelschen Rechtsphilosophie [1843], escrevia: "A abstração do Estado enquanto tal pertence apenas ao tempo moderno... A abstração do Estado político é um produto moderno... A Idade Média é o dualismo real, a Idade Moderna, o dualismo abstrato".
Raymond Aron põe fundamentalmente o problema da "ordem social da modernidade" [1969 p. 298], parte do fato econômico e mais precisamente da produtividade do trabalho e parece chegar, como se viu, à idéia de uma "ambição prometéica", baseada na ciência e na técnica, como