Julio resende
(1917-2011)
3 Anos antes da sua morte um dos maiores pintores portugueses Júlio Resende concedeu esta entrevista a revista Visão. No momento em que li este artigo deu-me a percepção de que este homem era sem dúvida um ser humano de grande valor e um artista de alma e peito.
"Não entendo as pessoas que dizem que fazem coisas para matar o tempo. A última coisa que quero fazer com o tempo... é matá-lo".
Que insatisfações que o movem?
Ainda estou cheio de curiosidade. Se me encontrar cá daqui a dois ou três anos, talvez já lhe possa dizer o que procuro agora... A minha arte deve muito à busca de gentes, geografias, sabe? À busca do andar, do dizer e do sentir dos outros. Como agora já não posso sair muito destas quatro paredes, faço evocações e recorro a imensas coisas que deixei penduradas. Tenho aqui muita coisa para repensar...
O que guarda de mais profundo e afectivo, nestes 90 anos?
Para mim, foi sempre muito bom falar com os outros. Questionar, aprender com cada um. E não basta ter experiência de vida. Às vezes, a experiência ajuda-nos na técnica, mas não vale para o espírito.
A arte para o umbigo serve para algo?
Não serve para nada. Um homem não faz sentido virado para si próprio. Houve alturas em que falava muito da importância da sensibilidade e pressentia que as pessoas, pela frente, aceitavam. Mas lá por dentro pensavam que eu era tolinho. Dá vontade é de ficar calado... Hoje fala-se muito da importância da tecnologia, parece que resolve tudo. Não sou contra a evolução nem valeria a pena nem ela é obstáculo à criatividade. Mas deixámos, por exemplo, de olhar para a mão como factor de trabalho. Hoje, a mão já quase só serve para tocar nuns botõezinhos. Está ali o telemóvel, mas nem faço uso. As mãos, para mim, são outra coisa, servem para outra coisa. Pelo menos, enquanto puder. Em cada manhã olho para a minha mão direita e pergunto se ela me deixa trabalhar...
Como são esses jovens?
Não dou sermões nem lições. Falo com