Introdução as Idéias de Paul Ricouer
Ainda que separadas por quase duas décadas das pesquisas sobre Freud, as noções de símbolo e de cogito ferido aparecem, num terceiro momento, refundidas no âmbito da temática da identidade narrativa (reflexão que já contém as temáticas da linguagem e da história). Reforçando as críticas existencialistas segundo as quais as filosofias do sujeito se ocupariam demais de aspectos ontognoseológicos do sujeito e, por isso mesmo, mantendo-se à margem da experiência viva da consciência e do seu si-mesmo, Ricoeur se propõe a pensar a consciência e os processos de constituição da sua singularidade. Para tanto, o filósofo novamente evidencia que qualquer consciência se dá em um mundo, isso significa que sempre nos vemos lançados em determinadas situações e ocorrências do mundo da vida. Nessas circunstâncias, o elaborar do si-mesmo que somos estaria condicionado à apreciação dos atos, fatos e histórias que nos pertencem e nos expressam.
Para Ricoeur, seria apreciando criticamente os sinais da existência cotidiana que nos chegam através dos comentários dos outros a nosso respeito que construiríamos nossa identidade pessoal, ou, em suas próprias palavras: “a narrativa é um convite para ver nossa práxis como ordenada por tal ou qual enredo” (Ricoeur, 1985, p. 104). Concordando com isso, Dartigues tem razão em dizer que: “A narrativa tem, pois, a despeito das dificuldades de se achar um substrato identificativo, a virtude de manifestar a identidade pessoal” (Dartigues, 1998, p.11). Diante dessas assertivas, contudo, é preciso não subestimar o peso da interpretação nos enredos desta identidade, afinal, para Ricoeur, tal identidade seria resultado do conhecimento interpretado, de modo que, qualquer caminho para uma tomada de consciência já é deliberação de uma compreensão de um sentido e de uma interpretação das significações do universo simbólico que nos expressa (Ricoeur, 1985).
Mas, por meio de sua ideia de narrativa, Ricoeur não estaria propondo