indivíduo - liberdade
Erich Fromm
(Do livro: O Medo à liberdade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978, pp. 29-40)
Antes de abordarmos nosso tópico principal — a questão de saber o que a liberdade significa para o homem moderno e de por que e como ele procura escapar-lhe — devemos primeiro examinar um conceito que pode parecer um tanto afastado da realidade. Ele é, contudo, uma premissa necessária à compreensão da análise da liberdade na sociedade moderna. Refiro-me ao conceito de que a liberdade caracteriza a existência humana como tal e, outrossim, que seu significado muda de acordo com o grau com que o homem se percebe e concebe a si mesmo como um ser independente e separado.
A história social do homem começou com seu aparecimento saindo de um estado de unicidade com o mundo natural para um outro de percepção de si mesmo como uma entidade separada da Natureza que o rodeava e dos outros homens. Durante longos períodos da História, porém, esta percepção permaneceu indistinta. O indivíduo continuou estreitamente ligado ao mundo natural e social de que emergia; conquanto em parte tomasse conhecimento de si mesmo como entidade separada, também sentia-se parte do mundo que o circundava. O processo crescente de desprendimento do indivíduo dos seus laços originais, processo a que podemos denominar "individuação", parece ter atingido seu ápice na História moderna, nos séculos entre a Reforma e a atualidade.
Na história da vida do indivíduo encontramos o mesmo processo. Uma criança nasce quando não mais está unida à mãe e torna-se uma entidade biológica separada dela. No entanto, se bem que esta separação biológica seja o início da existência humana individual, a criança permanece funcionalmente unida à mãe durante um período considerável.
Conforme o grau com que o indivíduo, falando figurativamente, ainda não cortou completamente o cordão umbilical que o prende ao mundo exterior, ele não é totalmente livre desses