Os padrões sociais e a liberdade do indivíduo
Joana tinha basicamente ódio de Graça e Graça sentia-se culpada. Ou vice-versa. Nenhuma das duas saberia falar sobre as causas de um ou outro sentimento. Eram gêmeas não idênticas. Joana era morena e Graça, loura. Esta fatalidade, não a da diferença da cor dos cabelos, sim a do fato de serem gêmeas, originara, na visão dos pais, a sequência de brigas cruéis das filhas.
O primeiro episódio grave começou com uma brincadeira de esconder. Graça contou que achou o esconderijo de Joana, mas a irmã morena retrucou.
- Não era sua vez de achar, era eu que estava te procurando. Me escondi aqui para esperar você passar.
- Não inventa, Joana. Você perdeu.
- Perdi nada, sua loura metida.
A loura, tão esperta quanto a irmã, criou em cima da mentira. Ou da verdade. - Muito bem. É a sua vez de me pegar? Quero ver!
E desatou a correr. Joana virou um raio e foi atrás dela. Graça abriu a porta, de vidro, para fugir para a varanda. A partir daí a história tem duas versões finais. Para Joana, Graça fechou a porta na cara dela, o que provocou a quebra do vidro bem em cima do seu rosto. Daí o corte na sua testa e sua respectiva cicatriz de cinco pontos. Já para Graça, foi o vento quem empurrou a porta. Esse impacto estilhaçou o vidro em mil pedaços, um dos quais se alojou em sua mão direita. Daí o corte em seu pulso e sua respectiva cicatriz de quatro pontos. Outra história das gêmeas envolve cabelos. Graça acordou com seus belos cabelos louros cortados. Estavam picotados de tal forma que, quando a mãe foi acertá-los, o comprimento deles, que já chegavam à cintura, passou a ser a nuca de Graça. Joana não conseguiu se conter.
- Você está parecendo um garoto! Graço!
Depois de um tempo sem que as gêmeas dirigem-se palavra uma à outra, Joana tentou abrir a porta do quarto. Nada. Estava trancada por dentro.
- Pára de gracinha, Graça! Abre essa porta!
- Nossa, Joana! A porta deve ter emperrado. Pior que a mamãe escondeu todas as chaves da