Inadaptação
Manuel dos Santos Rosa*
Revista de Espiritismo nr. 29 - Outubro/Dezembro 1995
No uso popular da linguagem, em constante evolução, tende a confundir-se o conceito de inadaptado como sinónimo de vadio, como delinquente, nervoso ou psicopata. Aplica-se também tal designação ao atrasado ou débil. É a palavra normalmente usada para distinguir ou separar o normal do anormal; o são do patológico; o certo e equilibrado do sujeito imaturo, desequilibrado ou tarado.
A inadaptação qualifica-se, no dizer de um psiquiatra francês (Lagache), segundo a situação de que é correlativa (em relação à criança, em relação ao meio, em relação aos dois: criança e meio). Segundo o mesmo autor, três perigos podem surgir nesta classificação:
1º. O de considerarmos a inadaptação como critério de desenvolvimento ou maturação normal. (Os críticos aderentes ao Lamarkismo (1), Darwinismo (2) ou ainda ao Behaviorismo (3) seriam retomados). Seria normal o que se está a adaptar ou adaptado. Mas a quê? Basta imaginar que dentro de uma sociedade de atrasados, o débil mental não seria um inadaptado. Por isso, se entende que a condição de atrasado não é causa de inadaptação, mas sim um factor diminutivo das faculdades de adaptação e isto no contexto de um meio dado. É evidente que uma definição exaustiva e concreta não se nos apresenta com muita facilidade. No entanto, é preciso ir um pouco mais além.
2º. Dir-se-á que é inadaptado o que não tem sabido ajustar-se às exigências das suas necessidades, rejeitado pelo seu meio de trabalho numa sociedade que não soube colocá-lo no seu lugar ou proporcionar-lhe os adequados meios para o seu desenvolvimento? O furto a estranhos ou domésticos reveste-se de características diferentes, visto que diferentes são os móbiles identificados. Intervindo, assim, a tolerância ou não do meio social, a protecção ou não pelo meio que influenciasse a criança ou adulto no sentido do acto praticado. Assim, o sujeito e seu meio