Homo videns - televisão e pós-pensamento
Giovanni Sartori
Atualmente estamos passando por um rapidíssimo processo revolucionário dos meios de comunicação. Um processo com muitos tentáculos (internet, computadores pessoais, espaço cibernético, etc), mas que, basicamente, é caracterizado por um denominador comum: a capacidade de ver à distância – tele-ver – surgindo daí o nosso vídeo viver. E é em consideração deste fenômeno que no nosso livro focalizamos a questão da televisão, constituindo como tese de fundo a afirmação de que o vídeo está transformando ohomo sapiens em homo videns no qual a palavra vem sendo destronada pela imagem. Tudo se torna visualizado. Mas, neste caso, o que vai acontecer com as coisas que não são visíveis, que constituem de fato a maior parte da realidade? Assim, enquanto nos preocupamos com os que controlam os meios de comunicação, não nos damos conta de que escapou do nosso controle o próprio instrumento em si.
Muitos se queixam da televisão achando que está incentivando a violência, que está informando pouco e mal, ou até mesmo acusando-a de ser causa de retrocesso (...) Isso é verdade. Todavia, é ainda mais verdadeiro e ainda mais importante entender que a televisão está mudando a natureza do ser humano. É este o aspecto essencial, aliás essencialíssimo, que até hoje escapou da atenção da maioria das pessoas. Entretanto, é bastante evidente que o mundo em que vivemos já está se apoiando nos ombros da “geração-televisiva”: uma espécie recentíssima de ser humano criado pela tele-visão – diante de um televisor – antes mesmo de saber ler e escrever.
Por isso, (...) vou tratar e me preocupar com a primazia da imagem, isto é, com uma espécie de predomínio do visível sobre o inteligível que conduz para um ver sem entender. E é sobre esta premissa fundamental que pretendo examinar a vídeo-política, quer dizer, o poder político da televisão (...)
Homo sapiens: quem primeiro usou esta expressão para classificar a espécie humana foi Lineu na