Apareço logo existo
Apareço, logo existo!
Na sociedade atual, em que as imagens tomaram o lugar da reflexão e da interioridade, proliferam indivíduos indiferenciados e passivos, meros consumidores da aparente subjetividade alheia. O sucesso dos reality shows é a melhor expressão deste tempo
Renato Nunes Bittencourt
A pressa vertiginosa da neurótica e crônica falta de tempo do cidadão da sociedade hipermoderna, exclui dele o apreço pela reflexão e pelo exercício da consciência. Essa condição torna-o mais suscetível a sucumbir às forças envolventes da "cultura das imagens", potencializando ainda mais os seus efeitos alienantes na subjetividade humana. A transformação da vida social e da própria cultura em imagens espetaculares difundidas pelos meios de comunicação como forma de se obter o controle político sobre as massas foi denunciada criticamente por Guy Debord pelo conceito de "Sociedade do Espetáculo", que se caracteriza pela produção de uma falsa experiência da realidade, que não encontra nenhuma associação com a dinâmica da vida concreta na qual estamos inseridos cotidianamente.
A expressão de ordem das relações sociais media das pela dimensão espetacular da vida é: "Apareço, logo existo". Trata-se da distorção do cogito cartesiano
O dispositivo espetacular próprio da sociedade contemporânea representa uma ruptura com o postulado da "metafísica da interioridade" (segundo o qual, o fundamento puro da verdade se encontra subjacente no âmago humano, e a noção de uma experiência racional da subjetividade, tal como realizada por Descartes nas suas Meditações Metafísicas). Para Descartes, podemos duvidar de todos os dados provenientes dos sentidos e mesmo de nossa existência corporal, mas não de nossa existência enquanto ser pensante, pois, uma vez que eu, enquanto sujeito,