Filosofia com crianças
A conhecida teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget afirma que antes dos 11, 12 anos a maior parte das crianças não é capaz de pensamento filosófico. Isto ocorre porque até essa idade as crianças não são capazes de "pensamento acerca do pensamento", uma espécie de metanível que caracteriza o pensamento filosófico. Este nível "operatório formal" do desenvolvimento cognitivo inclui raciocínio analógico acerca de relações, como o seguinte: "O guiador está para a bicicleta como o leme está para o barco, sendo o 'mecanismo de conduzir' a relação de semelhança". (Goswami, p. xxi). Contudo, cada vez mais investigação psicológica sugere que a explicação de Piaget subestima seriamente as capacidades cognitivas das crianças. (Astington, 1993; Gopnik, et. al.)
O filósofo Gareth Matthews vai mais longe e argumenta que Piaget cometeu o erro de não ver manifestações de pensamento filosófico nas próprias crianças que estudou. Matthews fornece exemplos deliciosos de perplexidades filosóficas em crianças bastante novas.
Tim (6 anos), absorvido a lamber um frasco, pergunta: "Papá, como é que podemos estar certos de que tudo não é um sonho?" (p.1).
Jordan (5 anos), ao ir para a cama uma noite às oito, pergunta: "Se eu for para a cama às oito e me levantar às sete da manhã, como é que eu sei realmente que o ponteiro pequeno deu apenas uma volta ao relógio? Tenho de ficar acordado toda a noite a observar o relógio? Se eu desviar o olhar por um instante apenas, talvez o ponteiro pequeno dê a volta duas vezes" (p.3).
Um dia, John Edgar (4 anos), que tinha visto aviões descolar, ganhar altitude e gradualmente desaparecer no horizonte, voou pela primeira vez. Quando o avião parou de subir e o sinal de apertar o cinto foi desligado, John Edgar virou-se para o seu pai e disse em tom aliviado mas perplexo: "As coisas não ficam realmente mais pequenas cá em cima." (p.4).
Matthews recolheu muitas histórias destas de