Escolanovismo e a reforma escolar
A investigação cujo itinerário descrevo aqui teve o objetivo de analisar a disseminação do chamado “escolanovismo”, no Brasil, examinando o modo pelo qual o impresso funcionou como dispositivo de configuração do campo da pedagogia e de conformação das práticas escolares. Recusando-se a autonomizar o ideário escolanovista das práticas em que se inscreveu e dos dispositivos que o fizeram circular, a investigação situou-se no domínio de uma história material da circulação do impresso e de suas apropriações. Na sua formulação original, a pesquisa foi um desdobramento de minha tese de doutoramento, Molde Nacional e Fôrma Cívica: Higiene, Moral e Trabalho no Projeto da Associação Brasileira de Educação(1924-1931)
A Associação Brasileira de Educaçao (ABE) foi, nos anos 1920 e 1930, a principal instância de organização do chamado movimento de renovação educacional no Brasil, congregando, na década de 1920, numa mesma campanha pela “causa cívico-educacional”, grupos de educadores que se antagonizariam mais tarde, após a Revolução de 1930, quando, numa conjuntura de crescimento do aparato estatal e de disputa por hegemonia política, a luta pelo controle do aparelho escolar tornou-se, para os referidos grupos, central. A pesquisa então realizada levou-me a questionar muitas informações e interpretações recorrentes na historiografia educacional brasileira sobre o movimento referido. Ao mesmo tempo, forneceu-me alguns pontos de partida importantes para uma nova investigação. Talvez o mais importante deles tenha sido a configuração do campo de consenso que tornara possível a referida campanha pela causa cívico-educacional, campo constituído pelo que chamo de programa de organização da nacionalidade. Neste programa, havia concordância quanto à importância conferida à educação - “causa cívica de redenção nacional” - e também quanto ao papel que a educação deveria nele desempenhar: obra de moldagem de um povo amorfo, a cargo de elites a quem caberia direcionar o