ensino da gramatica bechara
EVANILDO BECHARA
SÉRIE PRINCÍPIOS
1 -A escola e a chamada crise do idioma
A crise com que a escola se defronta tem raízes mais profundas do que uma simples verificação daescassez de recurso e do desinteresse das autoridades competentes, ou do despreparo do corpo docentee discente.A nosso ver, uma análise mesmo superficial permite apontar três ordens de crises independentes, masestreitamente relacionadas, que acabam desaguando na ação da escola. Recebendo o aluno já possuidor de um saber lingüístico prévio limitado à oralidade, a escola não o leva a desenvolver esse potencial — enriquecendo a sua expressão oral e permitindo-lhe criar, paralelamente, as condições necessárias parauma tradução cabal, efetiva e eficiente, expressiva e coerente (falando ou escrevendo) de suas idéias, pensamentos e emoções.A primeira crise é na ordem institucional, na própria sociedade, que, de uns tempos para cá, seguindoas pegadas de uma tendência mundial do após-guerra, privilegiou o coloquial, o espontâneo e ‘oexpressivo, renovando, consideravelmente, a língua popular e o argot.Este movimento, positivo em sua essência, trouxe, pela incompreensão e modismo de muitos, umaconseqüência nefasta, à medida que o privilegiamento da oralidade estimulou o desprestígio datradição escrita culta, já que se defendeu — sem ser praticado afetivamente pelos escritores, poisnunca deixaram de contemplar a sua obra como arte — que o verdadeiro bom estilo é aquele que seaproxima da espontaneidade popular, ou, então, aquele que se despe da artificialidade do estilocultivado. A desinformação das pessoas e a crescente substituição da leitura pelos meios decomunicação de massa não permitiram ver o quanto havia de erro na suposição de que os modernistas,aceitando a decisiva influência popular, admitiram todas as alterações de linguagem, ainda aquelas quedestruíam “as leis da sintaxe e a essencial pureza do idioma”, como dizia Machado de Assis. “Tudo éválido na