Economia Primitiva
A questão da economia primitiva não apenas não recebera, enquanto problema, resposta digna desse nome, mas sobretudo que numerosos autores a trataram com uma inacreditável superficialidade, quando não se entregaram simplesmente a uma verdadeira deformação dos fatos etnográficos. Vale dizer que a tarefa que Sahlins se atribui podia ter sido empreendida antes dele: o dossiê já existia, acessível e completo. Mas Sahlins é o primeiro a tê-lo reaberto, devemos saudar nele um pioneiro. Os etnólogos economistas não cessaram de desenvolver a idéia de que a economia das sociedades primitivas é uma economia de subsistência. Segue-se que, ao determinar a economia arcaica como economia de subsistência, designa-se menos a função geral de todo sistema de produção que a maneira pela qual a economia primitiva cumpre essa função. A antropologia econômica "clássica" responde pela idéia da economia de subsistência: a economia primitiva é uma economia de subsistência porque mal consegue, com grande dificuldade, assegurar a subsistência da sociedade. Seu sistema econômico permite aos primitivos, ao preço de um labor incessante, não morrer de fome ou de frio. A economia primitiva é uma economia de sobrevivência porque seu subdesenvolvimento técnico lhe impede irremediavelmente a produção de excedente e a constituição de estoques que garantiriam pelo menos o futuro imediato do grupo. Em suma, a economia primitiva é uma economia de subsistência porque é uma economia da miséria. Com efeito, resulta de sua análise que não apenas a economia primitiva não é uma economia da miséria, mas que ela permite, ao contrário, determinar a sociedade primitiva como a primeira sociedade de abundância. Se em tempos curtos de baixa intensidade a máquina de produção primitiva assegura a satisfação das necessidades materiais das pessoas, é que ela funciona, como escreve Sahlins, aquém de suas possibilidades objetivas, é que ela poderia, se quisesse, funcionar por mais tempo e mais