O fiscal deu o apito. Ele era um pouco gordinho, seus dedos eram roliços e o bigodão ruivo em sua cara dava uma pinta de policial. E, de certo modo, naquele momento ele era um policial. Observava minuciosamente os movimentos de cada um daquele monte de adolescentes sedentos por uma vaga na universidade. Usava aliança. É casado, pensei, como se fosse uma grande descoberta. Valeu, Lena, você é Sherlock Holmes, pensei mais uma vez, e ri por dentro – só por dentro. Se eu risse alto provavelmente ia ser atacada por alguma caneta preta transparente ou uma barra de cereal nojenta. Eu odeio barras de cereal. E até então, já haviam se passado dois minutos das minhas preciosas cinco horas e eu estava pensando no dedo gordo do fiscal e nas barras de cereal gosmentas. Foco, menina. Questão 1, fácil. Questão 2, facílima. E as outras oito questões que se seguiram foram tranqüilas, com a exceção de uma delas que continha no enunciado uma série de palavras que eu não conhecia. Resolvi marcar inconseqüentemente a alternativa a por causa do meu cachorro, o Armstrong. Meu pai deu esse nome idiota por causa daquele cantor americano de jazz. Todo mundo que conhece o filhote acha que o nome é uma homenagem ao primeiro homem que pisou na lua e acha o máximo. “Quanta importância essa família dá aos grandes feitos da humanidade”, as visitas dizem. Mas na verdade, meu pai é só um saxofonista frustrado, enquanto eu, meu irmãos e minha mãe somos apenas um quinteto passivo na hora de escolher nomes de filhotes, ou do que quer que seja. Faz essa prova, Lena. Resolvi me concentrar. A décima questão era sobre geografia e tinha uma tirinha da Mafalda. A Mafalda parece minha irmã caçula. Li o enunciado imaginando minha irmãzinha lendo pra mim com a voz fininha e alegre, e aquela língua meio presa que toda criança tem. Eu não sabia a resposta. Marquei d, de Dora, nome da minha pequena. Questão 11, fácil. Questão 12, difícil, mas consegui resolver. Quanto orgulho. Até pigarreei para me sentir um