Copérnico e os Selvagens e Sociedade contra Estado
Está em causa aqui a questão pelo poder político e, muito legitimamente, Lapierre se pergunta antes de tudo se esse fato humano, responde uma se, em outros termos, o poder encontra o seu lugar de nascimento e a sua razão de ser na natureza e não na cultura.
É fácil imaginar que essas dezenas de sociedades “arcaicas” só possuem em comum a simples determinação de seu arcaísmo, determinação negativa – como o indica Lapierre – estabelecida pela ausência de escrita e pela economia dita de subsistência.
Lapierre, mais ou menos aceitando as clássicas classificações propostas pela antropologia anglo-saxônica para a África, percebe cinco grandes tipos “partindo das sociedades para chegar finalmente àquelas que quase não apresentam, ou mesmo não apresentam, poder propriamente político. Ordenam-se então as culturas primitivas em uma tipologia baseada em suma na maior ou menor “quantidade” de poder político que cada uma delas oferece à observação, quantidade essa que pode tender a zero, “...certos agrupamentos humanos, em condições de vida determinadas que lhes permitiam subsistir em pequenas ‘sociedades fechadas’, puderam prescindir de poder político.
Ora, seguindo as minuciosas análises de Lapierre, não se tem a impressão de assistir a uma ruptura, a uma descontinuidade, a um salto radical que, arrancando os grupos humanos da sua estagnação pré-política, os transformasse em sociedade civil. Se assim é, a própria possibilidade de classificar sociedade desaparece, pois entre os dois extremos – sociedades com Estado e sociedades sem poder – figurará a infinidade de graus intermediários, fazendo, no máximo, de cada sociedade particular uma classe do sistema. Por conseguinte, tanto num caso como no outro, na hipótese da descontinuidade entre não-poder e poder ou naquela da continuidade, parece claro que nenhuma classificação das sociedades empíricas nos possa esclarecer sobre a natureza do poder político ou sobre as circunstâncias do seu