clastres a s. contra o estado

1200 palavras 5 páginas
Um chefe sem poder

A figura que serviria de inspiração a Clastres é a do chefe indígena (figura certamente genérica), autoridade que não detém poder algum, prisioneiro do grupo. Mesmo dotado de privilégios como a poliginia (casamento com mais de uma mulher), esse chefe está submetido a uma série de obrigações que pressupõem certas habilidades, dentre as quais, as mais importantes são a generosidade e o dom da oratória.

O chefe indígena é, em suma, aquele que pode dar e sabe falar. Essa sua fala reúne os homens ao seu redor sem, no entanto, mostrar-se eficaz para cooptá-los. Em suma, é uma fala vazia, pois não tem poder de mando, mantém o chefe numa posição de poder que é de fato aparente. O argumento de Pierre Clastres vai mais longe. Não se trata simplesmente de afirmar que o chefe indígena não detém o poder, pois, para o autor, a sociedade indígena (ou "primitiva", como ele prefere chamar de modo algo antiquado e que hoje poderia soar como "antropologicamente incorreto") não é estranha ao poder. O chefe não detém o poder porque é impedido pela própria sociedade, essa sim a detentora de um certo poder, que não consegue, no entanto, constituir-se como esfera política separada - ou seja, como Estado. O poder ali permanece difuso.

Essa tese fora formulada por Clastres quando ele tinha apenas 28 anos e divulgada num artigo intitulado "Troca e poder: filosofia da chefia ameríndia" - segundo capítulo da presente coletânea. Nessa época, ele ainda era um estudante de filosofia e preparava-se para iniciar suas pesquisas de campo em sociedades indígenas sul-americanas, como os Guayaki, Guarani e Chulupi - todos do Chaco Paraguaio -, os Yanomami da Venezuela e os migrantes Guaranis mbyá das redondezas da cidade de São Paulo.

Questionando o marxismo e estruturalismo

As experiências de campo foram certamente responsáveis pela sofisticação de seu pensamento, no entanto, a idéia central havia sido lançada já no texto de 1962, publicado originalmente na

Relacionados

  • Goldman Pierre Clastres Antropologia contra o Estado
    6812 palavras | 28 páginas
  • Resumo: a sociedade contra o estado
    926 palavras | 4 páginas
  • Formaçao do mundo contemporaneo
    9841 palavras | 40 páginas
  • Resumo A Sociedade Contra O Estado Pag
    593 palavras | 3 páginas
  • Lulu da Pomerânia
    1409 palavras | 6 páginas
  • MORPHEUS ANO V No
    3113 palavras | 13 páginas
  • Jhhhuju
    9214 palavras | 37 páginas
  • Povos indigenas como atores da governança global
    6878 palavras | 28 páginas
  • Fichamento: Violência e Psicanálise - Jurandir Freire Costa
    6938 palavras | 28 páginas
  • Casa
    9992 palavras | 40 páginas