Chiste
Chiste o riso da audiência, do outro, está embutido no próprio conceito de chiste. Trata-se de uma operação que não prescinde de seus efeitos para se constituir como laço social ou seu oposto. Vamos supor que alguém está conversando comigo e diz algo 'que não queria dizer'. Se rio disso e, esse alguém ri junto, fez-se um chiste; se ele ficar envergonhado, como se pego em flagrante, só terá havido um lapso. Ora, a distinção é momentânea, e pode ser lapso.As piadas, por sua vez, podem ter graça ou não. Por outro lado, a brevidade característica do chiste poderia, em princípio, estender-se a esse gênero textual, mas não necessariamente. Muitas vezes, a piada envolve uma narrativa que, em si, não é o que produz o riso. No entanto, é parte inextricável da performance daqueles que se convencionou considerar bons contadores de piada. A descrição dos tipos, dos personagens, das situações, de certa forma, apenas envolve a audiência e a prepara para um desfecho cômico. E também retoma os estereótipos que são tão caros a esse gênero de humor. "O gênero textual 'piada' sempre põe em questão, dois pontos de vista, duas culturas. E acontece que eu lhe conto uma piada sobre X, mas ela na verdade se dá sobre Y.
Piadas em geral incidem sobre campos socialmente controversos. Segundo Possenti, o texto parece querer dizer uma coisa e diz outra. Mas a controvérsia deve estar suficientemente popularizada, tem de ser conhecida para que o texto possa surtir o efeito desejado. "Dentre os campos em que há disputa, deve-se destacar: a sexualidade (bem ou mal comportada); as instituições (escola, religião, família, governo); mortes, desgraças, acidentes", afirma Possenti. Quando se trata de eventos trágicos, não se ri por diversão. O riso pautado na tragédia exprime o esforço humano em não se render e superar catástrofes pessoais ou coletivas. Mas tem limites. Como Possenti faz notar, pouco ou nada se riu do recente episódio do tsunami no Pacífico, pela magnitude do número de