Chistes e psicanálise
A DESDRAMATIZAÇÃO DA REALIDADE HUMANA
CURITIBA
2011
O interesse de Freud pelos chistes é antigo. Muito antes de publicar A interpretação dos chistes e sua relação com o inconsciente, escrito em 1900 e publicado apenas em 1905, Freud utilizava os chistes e o humor em seus textos e em sua vida. Exemplo disso foi em 1938, quando deixava a Áustria dominada pelo nazismo. Após a prisão e o interrogatório de sua filha Anna, Freud foi obrigado a assinar um documento para a Gestapo afirmando que não havia sofrido maus tratos. Ao fazer isso, ele acrescentou de próprio punho: “Posso recomendar altamente a Gestapo a todos”. Já existiam obras anteriores à de Freud referentes ao humor, mas ele inovou ao colocar o chiste como uma formação psíquica do inconsciente, destacando as dimensões do sentido e do desejo e enfatizando que a técnica dos chistes estrutura-se com os mesmos mecanismos da condensação e deslocamento pelos quais o inconsciente se apresenta nos sonhos, atos falhos e sintomas.
A tarefa dos chistes e do riso na clínica psicanalítica
Os desejos da vida humana nem sempre condizem com as leis morais e sociais. Esse conflito, quanto suprimido, é recalcado e esquecido, observando-se nos pacientes certa resistência para falar sobre isso. A tarefa da clínica psicanalítica é ultrapassar essas resistências e acessar o inconsciente. O chiste, então, é uma das formas de trânsito para que algo da ordem do recalcado abra passagem e se mostre. O humor atua como álibi de alguma verdade do sujeito, que até então, não fora capaz de ser dita. O chiste é criado a partir de uma inibição e, quando essa representação do inconsciente se apresenta à consciência do piadista, este, por sua vez, conta-a a um terceiro, produzindo nele um efeito, constatado pela risada. A piada só é piada se o terceiro é tocado por ela e a referencia com o riso. Isso se mostra de forma importante na clínica,