Bauman, zygmunt - resenha - comunidade – a busca por segurança no mundo atual
Zygmunt Bauman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
Ana Lúcia Alexandre Borges
“Se vier a existir uma comunidade no mundo dos indivíduos, só poderá ser (e precisa sê-lo) uma comunidade tecida em conjunto a partir do compartilhamento e do cuidado mútuo; uma comunidade de interesse e responsabilidade em relação aos direitos iguais de sermos humanos e igual capacidade de agirmos em defesa desses direitos.”
(Zygmunt Bauman, 2003, p.128)
Introdução
Ao narrar seu dia-a-dia, ou ao descrever o lugar onde moram, moradores de favela do Rio de Janeiro, como as inúmeras que compõem grandes complexos como o do Alemão ou o da Maré, ou ainda Vidigal, Mangueira e Rocinha, poucas vezes usam o termo “favela”. Ainda são mais raras as ocasiões em que usam a palavra “morro”. Ao falar de si mesmos e expor sua realidade, o substantivo que empregam é outro. Quando reclamam de governantes, dizem que falta saneamento na “comunidade”; que a falta de transporte na “comunidade” é um absurdo; que houve troca de tiros com traficantes quando a Polícia Militar invadiu a “comunidade”. Os moradores enxergam-se como parte integrante desta “comunidade” , uma organização viva e fechada, onde, apesar dos pesares, sentem-se seguros, e a qual são capazes de defender custe o que custar, contra possíveis invasores ou outros fatores que possam abalar sua estabilidade. E é desse conceito, entre outras acepções atribuídas para a palavra, que Zygmunt Bauman trata no livro “Comunidade – a busca de segurança no mundo atual”.
Nessa obra, lançada por aqui em 2003, o sociólogo polonês desconstrói a idéia formada, que atravessa o imaginário coletivo, de que “comunidade” é o paraíso perdido, um lugar cálido e aconchegante onde estamos protegidos e a salvo: em suas 138 páginas, o autor mostra que, na verdade, “ser em comunidade” é uma tarefa complicada, pois está em permanente conflito com a liberdade. Bauman narra as pressões que o conceito