Vidas Desperdiçadas
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Vidas desperdiçadas
João Batista de Menezes Bittencourt – UFRN
BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Tradução de Carlos Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
176 p.
Para onde mandar os indivíduos que não possuem mais nenhuma utilidade e que, por sua vez, não podem mais ser incorporados a nenhum sistema produtivo? É essa a pergunta que orienta toda a discussão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra recém-publicada Vidas desperdiçadas (2005).
O autor nos brinda com uma instigante reflexão acerca de uma problemática bastante contundente dos últimos tempos: os problemas ocasionados pela produção e remoção do “refugo humano”. O mundo está cheio, afirma Bauman, e não se trata de uma constatação física e/ou geográfica, mas sim de uma preocupação política e social. Existem enormes extensões de terra, e muitas delas, até mesmo habitadas por um número ínfimo de pessoas, o que não existe é espaço social para os chamados “párias da modernidade”, os inadaptados, os expulsos, os marginalizados, enfim, o lixo humano que foi produzido pela sociedade do consumo. O grande problema dos
Estados, em nossos dias, é pensar alternativas de remoção desse refugo humano que insiste em tornar a paisagem desagradável, contaminando-a com seu aspecto desconcertante.
No primeiro capítulo, denominado No começo era o projeto, o autor discute a idéia de que a produção do refugo humano está intrinsecamente ligada à construção de uma ordem universal. A modernidade foi construída sob a idéia de que uma “boa sociedade” seria aquela que disponibilizaria emprego para todos; nesse sentido, os “redundantes”, desse período, seriam o exército de reserva que estaria esperando por sua chance na fila de espera dos desempregados. Os redundantes de hoje, não têm esperança de serem chamados de volta ao serviço ativo, vão di-
reto para o depósito de dejetos humanos. É nessa perspectiva que Bauman distingue a sociedade dos produtores da sociedade dos