Antropologia
Print version ISSN 0009-6725
Cienc. Cult. vol.54 no.1 São Paulo June/Sept. 2002
VIOLÊNCIA E DESIGUALDADE SOCIAL
Nancy Cardia
Sueli Schiffer Em 1999 ocorreram 6.638 homicídios na cidade de São Paulo, de acordo com dados da Fundação Seade, resultando em uma taxa de 66,89 homicídios por 100.000 habitantes. A distribuição desses homicídios, através dos distritos que compõem a cidade, não é homogênea, fato aliás que se repete em várias cidades do Brasil e do mundo(1). Com freqüência os homicídios se concentram em certas áreas da cidade e não seria surpresa se dentro dessas áreas também ocorrerem concentrações. No caso de São Paulo em apenas 4 distritos da Zona Sul(2) onde em 1999, segundo a Fundação Seade, se encontravam 831.178 habitantes aconteceram 854 desses homicídios. Ou seja, em uma região onde habitavam 8,37% dos moradores da cidade ocorreram 12,87% dos homicídios.
Esse fenômeno se repete pelo Brasil: Cano(3) e posteriormente Szwarcwald et al(4) estudando a distribuição dos homicídios no Rio de Janeiro, identificaram a concentração de homicídios nas áreas de maior pobreza e de maior concentração de favelas. Resultado semelhante foi obtido por Beato et al.(5), para a cidade de Belo Horizonte e por Santos et al. (2001) para Porto Alegre. O que surpreende no caso das cidades brasileiras é o grau de concentração. Em Washington DC, uma das cidades norte-americanas com altas taxas de homicídios, 23% dos homicídios ocorridos em 1999 se passaram em 19 das 83 áreas de distritos policiais. Já aos quatro distritos censitários citados acima correspondem quatro delegacias de polícia(6).
Apesar de amplamente divulgada a informação de que os homicídios se distribuem de modo desigual e que o risco de ser vítima é maior em certas localidades que sofrem várias carências, o fato parece não ter provocado forte reação das autoridade competentes. Seis anos após os primeiros esforços de busca da relação entre as carências sociais e econômicas e