antropologia
José Carlos Rodrigues
Quem não passou pelas desagradáveis sensações derivadas de aproximações inusitadas, tais como um rolo de papel higiênico sobre a mesa de jantar, um fio de cabelo flutuando em nossa sopa, um garfo depositado no interior do vaso sanitário, barro manchando o lençol da cama, absorvente higiênico em uma travessa, a visão de alguém assuando o nariz em um guardanapo? Que fator seria capaz de explicar o asco tão violentamente visceral que nos acomete em situações do tipo mencionado? Arrisco uma resposta: poluição. A ideia de poluição é intima dos antropólogos. Por toda parte e por todos os tempos, nas mais variadas culturas, a poluição se tem associado a perigos que decorrem da mistura de elementos de que cada sociedade considera como pertencentes a domínios que pensa deverem ser mantidos separados. Segundo os casos, a poluição pode decorrer, por exemplo, da intrusão de coisas do domínio da rua no ambiente da casa, de objetos do banheiro da cozinha, da indistinção entre assuntos da vida e da morte, de aproximações entre a saúde e a doença, de contatos entre o interior e o exterior corporais, o público e o privado... A poluição é, antes de tudo, indistinção. Ela se materializa naquilo que simbolicamente ofusca a nitidez das linhas demarcatórias dos diferentes domínios que cada sociedade e cada momento histórico consideram fundamentais para sua estruturação. Obviamente, também são íntimos dos antropólogos os ritos e tabus que as diversas culturas inventam para lidar com a periculosidade dessas misturas – que são principalmente de natureza mística e mágica e que em muito antecedem e em muito deverão suceder as descobertas de Pasteur. Tudo isto significa que a poluição não é absolutamente um “em si”. Ela é função do joga das categorias de ideias e sentimentos postulados para a estruturação de cada sociedade, bem como das linhas que as separam. A poluição é algo que nega esta ordenação ou que é