antropologia
Elaine Linhares de Assis Guerra
Em pleno século XVI já proliferaram na Europa inúmeras versões sobre o Brasil. Lá a abundância era a nota principal, com montanhas de queijo ralado, rios de leite, etc. Também diziam vigor a liberdade sexual, pois todos andavam nus. A natureza era pródiga, não fazendo frio nem calor; tudo era de todos e ninguém pensava em trabalhar. Essas histórias, em grande parte fruto dos exageros dos primeiros viajantes que estiveram na América, acabavam por formar a ideia de que no Brasil, vivia-se uma festa.
Deixando de lado outros comentários sobre esta visão paradisíaca sobre o Brasil, é importante lembrar que as festividades, quaisquer que sejam os seus tipos, constituem uma importante marca da civilização humana.
A vinculação com os fins superiores da existência humana, com o mundo dos ideais, é condição essencial para que aconteça um clima de festa. Esta relação, contudo, parece só se realizar plenamente nas festas populares e públicas, principalmente - no caso brasileiro - no carnaval. Nele todos são iguais, penetrando o povo temporariamente no reino utópico da universalidade, liberdade e abundância. Ocorre uma liberação temporária da verdade dominante e do regime vigente, abolindo-se provisoriamente todas as relações hierárquicas, regras e tabus. Estabelecem-se, desta forma, entre os indivíduos, novas interações, embora passageiras.
O carnaval parece se tornar uma festa verdadeiramente humana, desaparecendo provisoriamente a submissão. Mas para validar estas percepções sobre o Carnaval, é preciso que nos detenhamos sobre o princípio de que esta é uma festa popular, ou pelo menos ainda guarda este traço em sua história, fecundada nos domínios da vida e da cultura.
São vários os cientistas sociais que concebem o carnaval como a mais importante das festas populares. Dentre os historiadores que analisam mais detidamente o carnaval, destaca-se o espanhol