Anchieta
A OUTRA FACE DO PE. JOSÉ DE ANCHIETA: DOS FEITOS DE MEM DE SÁ
Ivânia dos Santos Neves
Professora dos cursos de Comunicação Social e Letras e do Programa de Mestrado de Comunicação,
Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia
RESUMO: Neste artigo trato a relação da Igreja Católica com a colonização do Brasil. Analiso discursivamente um poema pouco conhecido do Pe. José de Anchieta, Dos Feitos de Mem de Sá. Neste poema, o jesuíta revela o que, de fato, pensava sobre os índios que não concordavam com a colonização e se mostra bastante insensível aos direitos humanos. A partir da definição de ethos discursivo fica evidente a posição do padre diante das crueldades da colonização.
PALAVRAS CHAVE: José de Anchieta, Ethos Discursivo, Dos Feitos de Mem de Sá.
Faces sob o sol, os olhos na cruz
Os heróis do bem prosseguem na brisa na manhã
Vão levar ao reino dos minaretes
A paz na ponta dos arietes
A conversão para os infiéis
João Bosco e Aldir Blanc
Como acontece com a grande maioria dos países, na contemporaneidade, o Brasil é um país construído a partir de processos de hibridismos culturais: o português, o banto, o suruí, o tembé, o japonês, o italiano, o alemão, o ribeirinho, o caboclo, o caiçara... Lamentavelmente e “naturalmente”, a história, desde
1500, é contada apenas pelo foco narrativo de quem estava no poder. Do início da colonização européia até os nossos dias, a história viveu e vive sob a ditadura do olhar do colonizador e da palavra escrita ocidental, européia, branca.
Não é possível pensar, no entanto, que existiu um único sujeito particular que planejou o sistema colonial. Nem mesmo uma única instituição ocidental pode ser responsabilizada individualmente. O colonialismo europeu, tanto na América como em outras partes do mundo, se impôs a partir de uma multiplicidade de interesses. Os Estados europeus, com seus exércitos e seus anseios de se tornarem impérios, as grandes empresas que começavam a surgir e desejavam abrir