O PARADOXO DA COEXISTENCIA
Felipe Barreto Nery Coutinho*
RESUMO:
O artigo que se segue pretende abordar a coexistência de saberes no campo do trabalho da rede pública. Para tanto, partindo da psicanálise enquanto referencial teórico e clínico e do poder judiciário como uma das esferas presentes nesta circunstância, destaca, num primeiro momento, a temática do Gozo e a relação desta com o regimento jurídico vigente e, num segundo instante, utiliza o recorte de uma dada situação ocorrida para tratar da posição do analista no campo público e as nuances de sua atuação.
PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise. Gozo. Poder Judiciário. Analista. Rede Pública
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Graduação em Psicologia, Especialização em Psicanálise e em Gestão Social e Políticas Públicas (cursando) pela Universidade Federal de Juiz de Fora; Atuação profissional como psicanalista no terceiro setor e em consultório particular. Endereço: 7L Boulevard Jourdan, Cite Univesitaire, Paris, 75014, France. Telefone:
(33)0970245489; e-mail: felipebarretojf@yahoo.com.br.
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Psicanálise & Barroco em revista v.10, n.1: 60-72, jul.2012
Felipe Barreto Nery Coutinho
1. Delimitação do campo do gozo
Todo desenvolvimento da psicanálise pura e aplicada e, sobretudo, suas consequentes intervenções refletidas nas discussões sobre a policy1 alcançam status de mecanismo em prol de uma saúde pública mais humanizada. Fazem dessa, não somente uma técnica aplicada a alguém num pequeno espaço retangular, mas um arcabouço do pensamento moderno capaz de exercer influência nas decisões no campo do Público. Para isso, as considerações de Freud quanto ao papel da civilização, suas consequências e renúncias implicadas nesse processo constitutivo, talvez sejam fundamentais. Aqui, a função da lei assume correspondência de determinações tanto enquanto regras para a manutenção da ordem essencial da vida civilizada, quanto estrutural para o sujeito, deflagrada a partir