O paradoxo da Auto evidência
Os Direitos Humanos são, hoje, a língua franca do debate político moderno, mas isso graças a Thomas Jefferson, que, com uma única frase; “Consideramos estas verdades auto evidentes: que todos os homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de certos Direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”, transformou um simples documento do século XVIII sobre injustiças políticas numa proclamação duradoura dos direitos humanos.
As duas declarações do século XVIII se baseavam numa afirmação de auto evidência. A declaração francesa afirmava categoricamente que "a ignorância, a negligência ou o menosprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção governamental". Pouca coisa tinha mudado a esse respeito em 1948. A Declaração das Nações Unidas assumia um tom mais legalista: "Visto que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo". Mas isso também constituía uma afirmação de auto evidência, porque "visto que" significa literalmente "sendo fato que". Em outras palavras, "visto que" é simplesmente um modo legalista de afirmar algo determinado, auto evidente. Essa afirmação de auto evidência, crucial para os direitos humanos mesmo nos dias de hoje, dá origem a um paradoxo: se a igualdade dos direitos é tão auto evidente, por que essa afirmação tinha de ser feita e por que só era feita em tempos e lugares específicos? Como podem os direitos humanos ser universais se não são universalmente reconhecidos? Vamos nos contentar com a explicação dada pelos redatores de 1948, de que "concordamos sobre os direitos, desde que ninguém nos pergunte por que"? Os direitos podem ser "auto evidentes" quando estudiosos discutem a mais de dois séculos sobre o que Jefferson queria dizer com a sua expressão? O debate continuará para sempre, porque Jefferson