A polissemia da subjetividade
Meu nome é Eu sou quem sou (Javé) Meu nome é Ninguém (Ulisses)
Pretendo, neste artigo, rastrear as várias formas de linguagem em que a subjetividade é dita; precisar os sentidos de que são portadoras; mostrar que a rica polissemia é legitimada por alguns paradoxos de difícil transposição e que a complexa rede de questões concernentes a problemática do sujeito só pode ser tecida recorrendo a mais de um jogo de linguagem.
I. Os paradoxos da subjetividade Responder a quem nos interpela pela noção de subjetividade - ou até pela nossa identidade pessoal - é tarefa incômoda e perturbadora. Essa questão é para nós, hoje, como foi a do tempo para Agostinho. Sabemos o que é, desde que não perguntem. De uma maneira paradoxal, a subjetividade é simultaneamente evidência e problema. Bastante tematizada, especialmente a partir da Modernidade, tornou-se um conceito sobredeterminado, abrigando uma série de questões e respostas que oscilam, conforme o caso, da subjetividade absoluta de Javé à negatividade radical do astuto Ulisses. A pergunta pelo sujeito, pelo Eu, remete, de fato, a um conjunto de dificuldades que começam pela própria formulação da questão.
1. Consciente e inconsciente Perguntaremos pelo quem ou pelo que sou? Possuímos a evidência subjetiva, a certeza de nossa existência a ponto de poder dizer “eu sou”. Pela consciência e a racionalidade nos sentimos sujeitos e não objetos, seres de exceção, diferenciados
dos outros animais. Apesar disso, somos habitados e animados por algo anônimo e impessoal que nos força a conviver com a dúvida inquietante quanto à verdade do que realmente somos.
2. Singularidade e pluralidade Perguntaremos apenas pelo Eu individual, único, singular, irrepetível ou também e necessariamente pelos outros “eu” que utilizam o mesmo significante para reivindicar o estatuto de sujeito?
3. Identidade e temporalidade No primeiro caso, por qual dos “eu” perguntaremos? Pelo que